“A humanidade trocou os valores de amor e verdade pela frivolidade e prazer imediato", Ângelis (1994). Assistimos e lamentamos a difusão de drogas alucinógenas entre crianças, jovens e adultos. Constatamos que infelizmente o êxito das conquistas tecnológicas não conseguiu preencher as lacunas da existência humana. O homem moderno ficou deslumbrado com a comodidade e o prazer, ficou acostumado às sensações fortes dos sentidos e tem dificuldade de voltar-se para dentro de si e encontrar a plenitude íntima e a realização transcendente.
Afirma o psiquiatra André Gaiarsa: “a droga é a saída dos que não tem saída”, é como se, num quarto fechado, a pessoa pintasse uma paisagem e fingisse ser uma janela. A ilusão da droga é assim, finge que está tudo maravilhoso. O uso de drogas pode ser um fato passageiro na vida dos jovens e, muitas vezes, não vai além da experimentação porque percebe que a droga não tem muito a ver consigo mesmo, opta por outras formas de se obter prazer na vida. Em outros casos, o consumo de drogas tende a se intensificar,levando o adolescente a desenvolver uma forte dependência do produto. Quando isso acontece, revela-se pessoa insatisfeita consigo mesma, com a vida em geral, com as relações familiares e sociais. A droga entra na vida do jovem como uma possibilidade de fuga das dificuldades internas e objetivas, o que fará com que consuma cada vez mais.
No entanto, o uso de droga causa uma satisfação ilusória e passageira, pois o prazer que a droga oferece (depois de alguns anos) tende a desaparecer, dando lugar a sensações desprazerosas e, conseqüentemente, ao sofrimento. O jovem então a utilizará não por causa do prazer, mas porque precisa evitar o desprazer de ficar sem ela.
Deixa de ser um usuário recreativo e intensifica seu vínculo de dependência (passa a usar a droga como muleta).
O usuário recreativo, por sua vez, pode parar de consumir, desde que passe por uma abordagem construtiva (uma intervenção familiar e/ou profissional) que lhe mostre os perigos da tolerância e dependência e permita-lhe investigar o que está por “trás” desta forma de obter prazer, tendo em vista sua dimensão espiritual (qual sua tarefa nesta encarnação, para que veio aqui?) e suas carências afetivas.”
O trecho acima é do livro PREVENÇÃO DE DROGAS, de Rosa Maria Silvestre. O livro inteiro pode ser baixado no link A PREVENÇÃO DE DROGAS.
Eu o encontrei pesquisando sobre o assunto para obter eficiência no atendimento a um jovem de 33 anos que me procurou em uma casa assistencialista. O caso dele e de outros que já atendi em consultório me deixam convencida: o uso de drogas é prejudicial, faz mal à vida das pessoas. E me refiro às drogas ilícitas e as legalizadas, como o tabaco e o álcool. Todas são caminho contrário ao crescimento da pessoa como ser pleno, no sentido material e espiritual. Eu disse certa vez a um de meus pacientes, que ao iniciar psicoterapia era consumidor de ayahuasca (mas já havia consumido por um bom tempo maconha e cocaína): “você não precisa de ayuasca, maconha nem coisa alguma para atingir seus objetivos, inclusive o de estar bem consigo mesmo, sabe por que? Por que todos nascemos com o kit completo para nossos respectivos propósitos de vida.” Sim, vimos a este mundo material trazendo conosco tudo de que precisamos para nossa caminhada evolutiva. E mesmo quando nos faltam olhos ou membros, as partes inteiras do corpo que temos são tudo de que precisamos para o nosso desafio.
O tema drogas é sempre muito contundente e causa reações apaixonadas e às vezes até violentas por parte de quem usa e não dá conta de questionar a possibilidade de excluí-las de sua vida. Ao contrário, estão sempre buscando subterfúgios, justificativas e defesas mil para convencer-se de que “tudo bem usar drogas” ou “maconha não faz mal”.
Por que os usuários de drogas não suportam ouvir ou ler que drogas faz mal? Vem sempre com veementes protestos e pedido de que se explique minuciosamente e com argumentos científicos qual é a base da afirmação de que drogas faz mal. Mas sabem o que é pior? Eles não se dispõem nem a ouvir nem a ler as explicações. E ficam as palavras ao vento. Raramente explico; porque na maioria dos casos trata-se de pessoas com capacidade para autodidatismo. Apenas não têm a coragem de se deparar com as verdades expostas no início deste texto, as quais reproduzo abaixo com ampliações das idéias:
- Usuários de drogas têm dentro de si um vazio que tentam preencher com as drogas. Ou simplesmente usam-nas para fugir do desafio de descobrir que vazio é esse e como verdadeiramente preenchê-lo. Não digo que não existam pessoas não usuárias de drogas que também não tenham esse vazio. Muito ao contrário: a maioria das pessoas o tem. Mas não recorrem a uma estratégia autodestrutiva para preenche-lo.
- O uso de drogas é autodestrutivo. Se você usa drogas, pergunte-se porque ataca seu corpo, porque danifica paulatinamente a máquina maravilhosa que é veículo de sua vida? Muitos não conseguirão responder, principalmente quando o motivo for inconsciente.
- Muitos usuários de droga precisam na verdade é de psicoterapia para conhecerem a si mesmos, se depararem com suas limitações, seus defeitos, mas também com suas virtudes.
- A vida é pra valer, com seus prazeres e sofrimentos. A fuga da realidade é estratégia que nunca funciona nem mesmo para as crianças, quiçá para nós adultos.
- O grande “barato” da vida é a própria vida e o ser capaz de vencer os obstáculos, desafios, desajustes, as desadaptações, contrariedades, frustrações e quaisquer outros aspectos considerados aversivos A SECO, sem drogas, lícitas ou não. O prazer a cada conquista nessas circunstâncias é infinitamente maior. E nos faz entrar em contato com nosso eu real, nossas reais possibilidades e impossibilidades.
Aos usuários que tanto defendem que as drogas são inócuas, e me refiro aqui apenas às pessoas responsáveis, bem-informadas , sensatas e relativamente equilibradas, eu desafio com uma pergunta? VOCÊ ENSINARIA SUA FILHA AMADA OU SEU FILHO QUERIDO A CONSUMIR MACONHA OU A CHEIRAR COCAÍNA? Não!? Por que não?! Se não é bom pra eles, é bom pra você? Há nisso uma contradição, um paradoxo do qual você foge de analisar? Quem respondeu “não”, percebe que há também, no ato de consumir drogas, uma ação inconsciente de autodestruição? Por que não tenta descobrir a origem disso? Coragem! Não será fácil nem rápido e talvez nem mesmo barato (psicoterapias têm um custo). Mas é necessário.
Tá achando esse papo careta? O que é mais antigo e mais “careta” do que a covardia humana? Melhor ser careta e corajosa (o), ter saúde e respeito pela vida, descobrindo o caminho de SER em plenitude do que os “modernismos” de fuga da realidade e desperdício da Vida.
Meu paciente citado acima desafiou-se a se libertar. Ele queria experimentar ser livre. A verdadeira liberdade. A de sentir-se no conntrole da própria vida. Então, após alguns meses de psicoterapia, ele desligou-se da “igreja” onde consumia ayahuasca, continuou abstendo-se de drogas lícitas e ilícitas, mudou paradigmas, modificou hábitos e gostou muito dos resultados. Algum tempo depois ele pediu para interromper também a terapia. Disse que queria testar se conseguiria caminhar com as próprias pernas. Achei fantástico e claro que lhe dei alta. Embora ainda houvesse complexos a esvaziar, no caso dele, dei-lhe alta porque o processo terapêutico deve ser encerrado quando a queixa desaparece. E ele já estava sem as queixas que o levaram ao meu consultório (a queixa dele não era uso de drogas, mas desestruturação do ego, inadequação ao mundo, depressão e dificuldade de relacionamento). Claro está que meu dever ético era o de apoiar a iniciativa de crescimento e independência dele, percebendo que ele estava apto para tal esforço.
Deixa-me feliz imaginar que ele não precisa. Nem de drogas e agora nem mesmo de psicoterapia para sentir-se livre e pleno consigo mesmo.
Adaptado do texto "Usar drogas é covardia frente à Vida" escrito por Carmelita Rodrigues em
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